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quinta-feira, outubro 30

Concordo com Manuel, do De Direita, quando ele discorda de Pedro, do Flor de Obsessão, relativamente à qualidade dos colunistas. O melhor jornalismo não é, obrigatoriamente, feito pelos escritores.
Por exemplo, que dizer das crónicas de Manuel Alegre ou de Inês Pedrosa, individualidades intimamente ligadas à literatura? O que é que se extrai dali? Pessoalmente, os seus artigos não me aquecem nem arrefecem (no caso de Manuel Alegre, até repugnam).
Isto só para dizer que um colunista, para além de escrever bem, tem de ter uma determinada postura ao escrever. E isso já não passa pela escrita, mas pela personalidade de quem escreve.
Não digo com isto que os escritores, habitualmente ligados às letras, não levem vantagem sobre os outros. Mas um cronista não deve apenas saber escrever bem. Deve conseguir captar a atenção, deve ser incisivo, não fazer adormecer o leitor.
E essa característica não é exclusiva dos escritores.
João Pereira Coutinho é entrevistado por Alberto Gonçalves aqui. E, cereja no bolo, João retorna à net com esta página. Imperdível.

terça-feira, outubro 28

Esgotado, faço uma pausa da letárgica entrevista a Jorge Sampaio e mudo para o já crónico Vícios & Virtudes, onde Luísa Castel-Branco e Cinha Jardim discorrem avidamente sobre futebol.
Com o rabo entre as pernas, volto à entrevista de Sampaio.
Segundo consta, a nação anda deslumbrada com as virtudes artísticas do actor Rogério Samora. O rapaz não cessa de ser entrevistado e não há ninguém que lhe poupe elogios. Samora é, actualmente, visto como um ícone incontornável da expressão dramática lusitana.
Eu, para fugir um pouco à norma, digo apenas isto: Rogério Samora não é somente um péssimo actor. Samora, que tem a aparência de um assíduo frequentador do Casal Ventoso, é um ser boçal, ordinário, arrogante, nata absoluta da javardice popular.
De resto, Rogério Samora representa bem o que é o teatro português: um mundinho insuportável de criaturas reles que vão fazendo com que as salas de espectáculos fiquem cada vez mais vazias.
Aparentemente houve um caloiro qualquer que não gostou de ser praxado. O menino, ao querer integrar-se no “ambiente académico”, foi abusado pelos veteranos. Logo a seguir, houve uma série de vozes iradas que manifestaram profundo repúdio pelo Carnaval das praxes, alegando que ali não há tradição nenhuma.
Mas é óbvio que há tradição: tradição da estupidez, da bestialidade, do humor abrutalhado, da provocação barata, da humilhação selvática, da sexualidade ajavardada.
Tudo isto é o reflexo da universidade portuguesa. De norte a sul, o mundo académico simboliza uma escola de perfeita delinquência.
Por isso, a surpresa do caloiro ao deparar-se com um cenário destes até me parece um tanto absurdo. Os iniciados já deviam saber o que lhes espera ao ingressarem num curso superior. E o medo da alienação por parte dos colegas não pode servir de desculpa para a tolerância das praxes.
Alguma vez eu consentiria ser tratado daquela forma só para ser “integrado”? Para quê? Para ganhar a “amizade” de uma caterva de burgessos que durante um mês me tratam abaixo de esterco? Brincamos, com certeza.
É nestas alturas que digo: antes só do que mal acompanhado.
A demência londrina não pára. Depois dos casos preocupantes de David Blaine e de Mark McGowan, a capital inglesa tem agora uma personagem vinda directamente da banda desenhada. A criatura dá pelo nome de Homem-da-Serra-Eléctrica, veste-se à super-herói e deambula por Londres, destruindo todos os bloqueadores de automóveis que encontra. Diz o rapaz que os bloqueadores são símbolos de abuso de poder e, por isso, devem ser combatidos.
Se a moda pega aqui, a EMEL que se cuide.

segunda-feira, outubro 27

Tive a sorte de assistir à entrevista de Judite de Sousa a Mario Vargas Llosa. Os comentários do escritor confirmaram aquilo que eu já suspeitava há muito: Vargas Llosa é um dos poucos homens da literatura devidamente esclarecidos. Esqueçam as senilidades de Saramago ou dos manos Tavares Rodrigues.
Vargas Llosa, entre outros assuntos, opinou lucidamente sobre a questão do Iraque, dizendo que alterou a sua posição contra a guerra após ter visto com os próprios olhos o terror sanguinário imposto por Saddam.
Para além disso, o escritor desmistificou o sonho cubano, apontando críticas bastante duras ao regime de terror de Fidel Castro. Ainda antes de terminar, Vargas Llosa fez questão em falar um pouco sobre a famigerada “globalização”, explicando que hoje, mais do que nunca, as pessoas vivem mais e melhor.
Mario Vargas Llosa, uma referência a ter em conta.

quinta-feira, outubro 23

Carlos, do Contra a Corrente, fala da última obra do conceituado Christopher Hitchens, e transcreve uma passagem brilhante sobre o filantropo Jacques Chirac:

"Here is a man ([Chirac] who had to run for reelection last year partly in order to preserve his immunity from prosecution, on charges of corruption that were grave. Here is a man who helped Saddam Hussein build a nuclear reactor and who knew very well what he wanted it for. Here is a man at the head of France who is, in effect, openly for sale. He puts me in mind of the banker is Flaubert’s L’Education Sentimental: a man so habituated to corruption that he would happily pay for the pleasure of selling himself."

E era este o altruísta que se preocupava tanto com os inocentes da Guerra do Iraque...
Reflexões sobre o PS:

«É verdade, cão, os camaradas são cada vez menos, uns morreram, outros estão nas tintas, ficam connosco as sombras do campo de batalha, os ecos, os rumores, as horas de tudo ou nada.»

Manuel Alegre, Cão como Nós

quarta-feira, outubro 22

O post sobre a Divina Comédia criou mais celeuma do que eu alguma vez poderia esperar. Têm chovido comentários magníficos sobre a minha simples observação em relação à gritante ignorância da funcionária da secção de livros do El Corte Inglés.
Compreendo as flatulências verbais.
Manuel, por exemplo, chama-me “pseudo-intelectual”. Esteve perto de acertar, Manuel. Não sou, de facto, intelectual. Mas também não pretendo sê-lo. Para isso, já existem as luminárias da praxe que se dedicam devidamente ao estudo das Artes.
Porém, o facto de estar longe de ser intelectual, não invalida o meu gosto pela leitura dos Clássicos, nem o prazer de ser bem atendido por um serviço que se diz sério.
Mas o comentário mais brilhante emana da deliciosa Mariana do Calvario. Diz Mariana que “a mais Divina das Comédias é representada por um débil mental que pensa que por saber os autores de uns quantos livros é um rei.” Fez bem, Mariana. Com efeito, sou um débil mental. Intratável, de resto. Mas não pela razão que aponta no seu comentário. A minha debilidade mental deve-se unicamente ao facto de dedicar o meu precioso tempo a ler e a responder a comentários de débeis mentais como a senhora.
Diz Mephistopheles:

Fala-se de que o Manuel Maria Carrilho poderá vir a susbtituir o Ferro Rodrigues. Não seria difícil, pois o porteiro da Sede Nacional do PS também o poderia susbtituir com vantagens. Mas o Carrilho é outra louça. Esse homem é um simulacro em estado puro. Da cultura percebe tanto como a Bárbara Guimarães, mas foi ministro da dita; em filosofia é uma fraude, limita-se a vender a retalho o que Rorty ou Meyer vendem a grosso; em política é um troca-tintas, depois de afirmar ter planos para o PS trocou-o por um lugar de deputado na assembleia, fechando a boca mal o agarrou. Agora começou a abri-la de novo. E vai daí alguns ingénuos pensam que o homem finalmente está a sério, que pretende dirigir o PS ou qualquer coisa que o valha. Vãs ilusões! O Mephisto aposta dobrado contra singelo que anda atrás do lugar de deputado europeu. E lá recomeça ele a agitar as águas até o desgraçado do Obélix deixar cair o javali...
Manuel Azinhal comentou o texto de Alberto Pimenta. A observação é merecedora de destaque:

Pois é assim, a facilidade a sobrepor-se sempre ao encarar frontal dos problemas... Repare-se no caso conhecido por Casa Pia:perante o panorama mais recente, não há já lugar para ilusões. O consenso que se estabeleceu entre aqueles que contam em Portugal é simplesmente a defesa da estabilidade de uma classe que se sente ameaçada. Ou seja, o instinto de conservação da classe política vai sobrepor-se a tudo.
No fim disto aqueles que efectivamente pensaram que era posível esclarecer alguma coisa dos chamados crimes da Casa Pia vão ficar por aí amargurados, afastados, demitidos, até mal vistos porque perturbaram o repouso das instituições...
Já reparou que nem se fala já de pedofilia, ou de crianças abusadas? Agora é a protecção dos arguidos que dá o tom ...
E o apelo às "coisas importantes" ...
No fim, o único condenado vai ser o Bibi, que é feio, porco e mau .. e é pobre, desgraçado e sem família nem influência política ou social.
O ideal.

Manuel Azinhal

Houve algumas almas iluminadas que fizeram questão em verberar a imperdoável agramaticalidade que este escriba repelente cometeu no texto sobre a Divina Comédia. Em vez de “*pôs-lhe ao corrente” é óbvio que o correcto será “pô-la ao corrente”. É o que dá, horas de sono a menos e terrores nocturnos com a história das escutas telefónicas.
Agradeço o gesto e espero que as correcções surjam sempre que necessário.
Quanto ao meu pretenso “sobrancerismo” referido pelo saudoso comentário de João Nabais, reconheço-o totalmente. De facto, esperar que uma supervisora da secção de livros de uma importante multinacional saiba quem escreveu uma obra suspeita e de pouca relevância como a Divina Comédia, não parece de bom tom.
Por isso, as minhas profundas desculpas...
O nosso querido Portugal não vai de vento em popa. Pelo contrário: vai de sonho a pesadelo, como nos diz o El País. Para acrescentar às reportagens publicadas no Le Point, no Guardian e na Time, o diário espanhol colocou o bom nome do nosso país literalmente de pantanas.
Deixámos de ser o país dos brandos costumes, deixámos de ter o sol mais brilhante e o céu mais azul. Para os estrangeiros, passámos a ser uma insuportável nação de corruptos, pedófilos e prostitutas. São estas as virtudes que se salientam na imprensa internacional. Com razão? Os portugueses contestam. As reportagens da Time e do El País, por exemplo, foram apodadas de sensacionalistas. O artigo do Le Point foi encaixado no pior que já se escreveu na imprensa francesa.
Pessoalmente, considero que não faz sentido criticar as famigeradas reportagens, pois nada do que lá foi escrito fugiu à realidade.
E censurarmos o gesto quando em Portugal são publicados diariamente artigos a maldizer o que se passa lá fora, parece-me, no mínimo, caricato.
No entanto, penso que a comunicação social estrangeira foi deveras eufemística quando falou de Portugal. E isto porque a desgraça do nosso país não se esgota na corrupção, na pedofilia e na prostituição. A Time, o El País e o Guardian podiam – e deviam – ter referido outras realidades desta respeitável Pátria.
Por exemplo, apontar que Portugal lidera o ranking europeu nos acidentes rodoviários, incêndios, mortalidade infantil, casos de sida e desemprego. Ou mencionar que somos os primeiros a contar do fim em áreas vitais como a Educação e a Saúde.
Portugal é isto. E parece que disto nunca mais passará.

terça-feira, outubro 21

As consternações da populaça relativamente ao erudito palavreado exibido por Ferro Rodrigues nos últimos dias não têm quaisquer fundamentos. Ferro tem-se limitado a confirmar a qualidade dos tiques verbais que já vigoram no PS há bastante tempo.
Tudo aquilo simboliza a pior boçalidade que a esquerda já produziu. Só Odete Santos, um dos melhores objectos do estudo de teratologia no país, consegue ofuscar a ordinarice dos socialistas.
No que concerne à indigência do maior partido da oposição, é lembrarmo-nos dos “pás” da harpia Ana Gomes, dos “porras” do rapsodo Manuel Alegre ou mesmo dos “palermas” do sevandija Ferro Rodrigues. O PS é um indecoro do princípio ao fim.
As escutas apenas vêm confirmar esta regra sinistra.
A escrita neste blog ficará consideravelmente limitada nos próximos tempos. Tenho de pôr trabalhos e leituras em dia. Para compensar, deixo aqui um artigo de Alberto Pimenta, um dos professores mais carismáticos que alguma vez tive.
De resto, o texto mantém-se bastante actual:

Alberto Pimenta sobre os Portugueses:
OS PORTUGUESES não formam uma sociedade porque não são sócios uns dos outros. Tomemos os exemplos mais corriqueiros. Na cidade velha, vai-se pela rua e pode-se apanhar com sacos de migas de pão ralado, atirados aos pombos, na cabeça. E a rua está cheia de cagadelas de cão, coisa que não se vê em mais cidade nenhuma, porque cada um entende que o espaço público se pode sujar à vontade. Lisboa é habitada por uma horda que usa fato e gravata e anda de automóvel, mas que não chegou sequer ao patamar mínimo de civilização urbana. Começa-se sempre de cima para baixo. A Lisboa 94, com a sua falta de ideia, fez várias coisas em cima sem haver nada em baixo, confundiu arte com cultura. A cultura começa nas ruas onde se pode andar, no ambiente cuidado, nos jardins tratados, que não existem.
Há um total desprezo do próximo, uma falta de noção dos direitos e deveres urbanos civilizacionais. Soube agora de um caso que se passa num prédio normal do centro da cidade. Há alguém que guarda a moto do filho de família no patamar entre o terceiro e o quarto andares e, quando Ihe vão dizer que não o pode fazer, essa gente que é licenciada fecha a porta, dizendo: «A moto é minha, eu faço o que eu quero!» Tal e qual como o sapateiro que bate no filho e diz: «O filho é meu, eu faço o que quero!». É a sociedade do «salve-se quem puder». A maior parte das discussões que se geram em bichas, em lugares públicos onde se reclama um direito, resulta da falta de noção muito exacta que qualquer alemão, francês ou italiano tem dos seus direitos e deveres. Aqui é tudo uma «questão particular». Passa a não ser uma sociedade organizada mas um clã. É simpático, de repente, encontrarmos uma grande humanidade e intimidade onde menos esperávamos. Sabe bem mas o preço é caro, implica um dia-a-dia desgastante, onde tudo funciona improvisada e desastradamente. Nem se pode andar pelas ruas porque os carros ocupam os passeios. São insignificâncias que vão criando e alimentando quotidianamente um mal-estar, um cansaço, uma perda de energia. Quando ando pela Baixa duas ou três horas, começo a sentir um esgotamento de tipo espiritual, ao contrário do que acontece em qualquer cidade europeia em que fico mais alerta, enérgico e cheio de ideias. Aqui, começo a arrastar os pés e a andar em passo de procissão, que é como fazem os portugueses, um pouco vergados, dai a metáfora de trazer um peso nas costas. Há, de facto, um peso qualquer que está lá dentro, nas costas do espírito. Este país é como uma eterna pequena constipação.
E esta fatídica vocação para as pantufas... Conta-se que, depois do terramoto, alguns aristocratas que ficaram sem palácio instalaram-se em barracões onde é hoje o Rato, com grande promiscuidade e as couvinhas lá atrás. Quando os palácios ficaram prontos, não queriam sair, pois era ali que lhes sabia bem. Isto define a mentalidade portuguesa.
A arte em Portugal não tem a ter com a vida. O museu e o espectáculo são coisas que se passam em lugares fechados, com horário e um culto feito em grande parte de snobismo e de obrigação social. Daí o grande desconforto dos artistas em Portugal, uma espécie de marcianos, porque aquilo que fazem não tem nada a ver com os interesses da sociedade. Em Itália. o cidadão mais humilde tem uma intuição, um conhecimento e uma veneração pela arte que aqui terá talvez o equivalente na veneração pela Nossa Senhora de Fátima. Até coincide porque é a veneração por um desconhecido, pelo que está para além da razão. Se não houvesse motivos exteriores, não creio que fizesse falta a quem quer que fosse ir a exposições de pintura, ao teatro ou à ópera.
Há um egoísmo perfeitamente catastrófico que caracteriza os portugueses. No seu dia-a-dia, desde que tenha resolvido o seu problemazinho e possa comer o seu bifinho com batatas fritas ou o seu bacalhauzinho, já tira dai um prazerzinho que o deixa satisfeito. O Eça usou todos esses diminutivos com razão, porque tudo é pequeno, da dimensão ao espírito. Satisfazem-se com pouco.
Outra característica dos portugueses é ter medo do risco, podem cair no ridículo, que fica muito mal. Ora para fazer grandes coisas, é preciso arriscar cair do trapézio. Mas os portugueses preferem trabalhar com rede ou então a um metro do chão. Os Descobrimentos foram uma necessidade porque essa gente que vinha do Norte do Pais, a cair de fome e a morrer pelo caminho, não tinha outra hipótese. E não esqueçamos os mercenários. Os relatos deixam-nos imaginar o tormento daquelas viagens, com doenças e sem comida, em condições de puro desespero. Depois, lá veio a mitificação histórica. Obviamente haveria alguns, poucos, a começar pelo infante D. Henrique, que teriam o seu projecto de alargar a Terra, de chegar a qualquer lado e de tirar lucro, que é o que faz correr o homem. O Camões diz textualmente, n’Os Lusíadas, que «nunca houve nação, nem bárbara, que prezasse tão pouco as artes como a portuguesa». E o padre António Vieira dizia, naquelas etimologias divertidas, que o mundo é mundo porque, por antífrase, é imundo tal como a Lusitânia se chama assim já que não deixa luzir ninguém por causa da inveja. E podíamos continuar com o Eça, com o António Nobre, com os que reflectiram porque tiveram oportunidade de comparar... (...).
Vivi na Alemanha muitos anos e pude constatar que o mito do amor ao trabalho dos Alemães é falso. Não gostam de trabalhar, mas sabem que e preciso. Por isso, fazem-no o mais eficientemente possível. Durante o trabalho, os alemães não conversam sobre futebol nem as alemãs falam de meninos, como aqui. E fora dele é tabu falar sobre isso. Ao contrário de Portugal, onde se passa o almoço a falar do trabalho, uma paranóia perfeita.
Enquanto a Europa é urbana e civilizada há muito tempo, em Portugal o crescimento faz-se por saltos muito grandes. Temos a ideia de que o progresso é deitar fora o que há e substituir pelo novo, o que mostra que não o conseguimos integrar. Em cada época, há elementos que definem o novo-riquismo. No século XVI, o embaixador do Papa escrevia para Roma a dizer que não entendia porque é que o barbeiro, um homem muito pobre, tinha um pretinho para Ihe carregar a bacia quando ia fazer a barba à casa do cliente. Na Segunda Guerra, houve o boom dos novos-ricos do volfrâmio e dizia-se que eles comiam a sardinha assada com pão-de-ló. Hoje continua e, apesar do novo-riquismo destes anos em que já somos europeus, basta por o pé para lá da fronteira para perceber que somos cada vez menos em termos culturais. Temos o mito das melhores praias, dos melhores vinhos, mas quanto tempo vão durar? Há terrenos próximos de Lisboa, na zona do Ribatejo, que estavam classificados para agricultura exclusivamente. Há três ou quatro anos saiu um decreto que permite utilizá-los para campos de golfe desde que sejam reconvertíveis. Daqui a 15 anos, comeremos bolas de golfe em vez de couves...
Os Ingleses, mesmo lá no extremo do Sahara, continuam a manter a nacionalidade e a beber o chá das cinco porque têm uma personalidade forte. Mas um português na Alemanha, ao fim de cinco anos é alemão, e no Japão torna-se um autêntico japonês. Tem uma capacidade espantosa de adaptação, uma qualidade que lhe facilita a vida, mas que é sinal de uma personalidade fraca. O nosso racismo é económico. Tratamos com servilismo os que têm mais dinheiro que nós, embora haja quem diga que isso é a cordialidade do português a acolher os estrangeiros.
Tal como há quem diga que a língua portuguesa é o espanhol sem ossos. Compare-se o «quero-te» com o «te quiero»: enquanto num a entoação morre no fim, no outro a afirmação é evidente logo no som. É como se nem na língua tivéssemos coluna vertebral.
Portugal ficou a meio caminho entre o Norte de África e a Europa. E não se consegue definir. É pobre combinar as coisas sem definir uma ideia e uma identidade próprias. Não há, em Portugal, política no sentido autêntico da palavra, uma ideia de sociedade para dar forma ao Estado. Não há partido que a tenha, excepto, talvez, o comunista, mas não é uma ideia própria. Os políticos portugueses, tal como os artistas, são preguiçosos, pouco competentes e bastante diletantes.

Diário de Notícias, 29 de Janeiro de 1995


A história das escutas telefónicas está a deixar o PS de rastos. Jorge Sampaio denuncia que há demagogia populista por detrás do caso. Alberto Martins fala em “assassinato de carácter político”. Os analistas dizem que Ferro Rodrigues não tem quaisquer condições para se manter na liderança do partido. No meio da histeria, surge a questão: quem substituirá Ferro?
Os socialistas tremem ante a tenebrosa dúvida. António Costa é substituto à altura? Carrilho poderá surgir como salvador do PS? Será Gastão uma alternativa viável?
Este parece ser o primeiro grande problema do Partido Socialista: não há figuras de relevo e de qualidade para preencher a chefia das hostes. Aliás, este é um sintoma já antigo, que remonta aos momentos mais cavernosos do Guterrismo.
Contudo, no auge da hecatombe, ainda há os optimistas. Manuel Alegre vê num congresso extraordinário a possibilidade de limpar a péssima imagem do PS. Vicente Jorge Silva, por seu lado, diz que um congresso não é solução. A única hipótese de poupar o PS da derrocada é fazer com que os membros do partido “se abram mais, que mostrem mais abertura”.
Escusado será dizer que Ferro Rodrigues já iniciou as hostilidades no que se refere a “aberturas”: “cagou” para o Segredo de Justiça e chamou “merdas” aos magistrados.
E mandou o PS pela Pia abaixo.

segunda-feira, outubro 20

Num destes dias fui até ao El Corte Inglés. Dirigi-me ao empregado da secção dos livros e perguntei-lhe se tinham a Divina Comédia. Respondeu-me que não sabia e, por isso, chamou de imediato a sua supervisora. Quando a senhora chegou, o empregado pôs-lhe ao corrente da situação. De pronto, a supervisora pergunta-me: “Divina Comédia? É de que autor?”
Querem comédia mais divina do que esta?
Depois de um fim-de-semana cinzento, nada melhor do que abrir o blog e registar novas aparições no Site Meter. Saúdo, assim, o Bicho Mau, Blogame Mucho e o Chibo Velho, agradecendo desde já as visitas e a inclusão deste blog de má fama nas suas listas anexas de sites a visitar.
Também fiquei surpreso, e assaz reconhecido, pela referência que Alberto Gonçalves, o nosso Homem a Dias, fez à Vitamina C.
Com acontecimentos destes, a vício de blogar só tem tendência a crescer.

sexta-feira, outubro 17

Comentário da semana para Vamos Lixar Tudo:

Paulo Portas já beijou Ana Gomes?
Ironizando… Os esquerdistas adoram apelidar o Paulo Portas de “Paulinho das feiras” e de perguntarem porque não anda ele agora “nas praças a beijar as peixeiras”. Será que ele já beijou a socialista Ana Gomes?

quinta-feira, outubro 16

Depois de ver uma coisa chamada “Vícios & Virtudes” com a atenção própria de um demente, cheguei à inevitável conclusão: a inteligência das mulheres merecia algo melhor do que a apedeuta Luísa Castel-Branco e a sua mixórdia televisiva.
Ontem cheguei a casa ainda a tempo de assistir aos minutos finais do debate parlamentar. Liguei a televisão e surgiu-me à frente a inenarrável Isabel Castro.
Após a auto-flagelação de a ouvir durante cinco minutos seguidos, desligo o aparelho. Refaço-me do choque. Reflicto. Pasmo. A dona Castro conseguiu suplantar a proeza que a sua colega havia alcançado na semana passada: fazer com que eu ficasse com saudades de Heloísa Apolónio!
Nuno Melo, um caso pouco vulgar de lucidez na política portuguesa, disse:

Os deputados presentes na comissão de Ética decidiram unanimemente votar o pedido de retoma de mandato de Paulo Pedroso sem tecer quaisquer considerações sobre o processo judicial e não se revêem nas declarações proferidas por Jorge Lacão. Jorge Lacão prestou um péssimo serviço à comissão a que preside ao proferir declarações sobre o acórdão. Ou o presidente da comissão de Ética muda de conduta ou a comissão terá de mudar de presidente.

Nuno Melo dixit.
Sintoma grave.
Carlos, do Contra a Corrente, publicou um post intitulado "CONDIÇÃO: HUMANA". Achei-o demolidor. No bom sentido, claro. Aliás, o termo "demolidor", a meu ver, é sempre no bom sentido. E principalmente se "demolidor" for em oposição à letargia do "politicamente correcto". Acho que não existe nada mais mísero do que esta maneira de fazer opinião, em que não se pode dizer nada sem antes colocar a mão na consciência.
Atenção: não sou apologista do comentário inconsciente e alheio à ponderação. Considero que devemos estar sempre bem lúcidos quando escrevemos.
Agora, o que é desprezível é a postura da pessoa que não se expressa como realmente se sente, só porque receia a opinião dos outros. A isso chama-se hipocrisia. É o que dá, mais de quatro décadas de salazarismo e, pior ainda, o estalinismo pós-Revolução que se instalou no país e que fez questão em espezinhar tudo o que não pertencia à Esquerda (lembrar Saramago no Diário de Notícias, por exemplo).
Quanto ao hate mail de que Carlos falou, não é caso para apoquentos. Pelo contrário. É lembrarmo-nos de alguns ilustres que usaram e abusaram do “politicamente incorrecto”, como Erasmo, Voltaire, Balzac, ou mesmo o nosso Eça.
Mesmo hoje, ainda temos poderosos opinativos, dos quais se pode salientar a tríade portuguesa do “politicamente incorrecto”: Vasco Pulido Valente/ João Pereira Coutinho/ Alberto Gonçalves. Todos usam uma prosa brutal, ácida, superior. Demolidora. E são estes que ficam para a História.
Ao contrário dos outros, que não suportam a imensa energia da “Arte da Rudeza” (de que o próprio Pereira Coutinho falou há uns tempos, no Independente), e que se sentem desconfortáveis quando se põe algo em causa.
Esses são esquecidos num dia.

quarta-feira, outubro 15

Os portugueses têm, por hábito, queixarem-se de que o nosso país é escandalosamente ignorado no estrangeiro. É compreensível o estado de espírito lusitano. O desprezo é coisa triste e deprimente.
No entanto, quando alguém decide fazer um pouco de propaganda ao nosso país, o povo indigna-se e mostra-se mal-agradecido. Foi o que aconteceu quando Bragança saiu na capa da última Time. Tudo por causa das “meninas” da terrinha.
Não vou discutir aqui os vícios e virtudes da prostituição. Nem muito menos questionar a razão de ser das meninas de Bragança e da falência do lar e da família.
Prefiro, antes, reflectir sobre as consequências da famigerada publicação. Sendo a Time uma das revistas mais lidas no estrangeiro, não será difícil perceber que o Turismo em Portugal irá disparar em flecha.
Com o ICEP de braços cruzados, e com as perspectivas pouco animadoras do Euro 2004, Bragança parece ser uma alternativa promissora.
A Time, quer queiram, quer não, prestou-nos um serviço único.

terça-feira, outubro 14

Os estudantes dizem que só admitem aumento de propinas se a qualidade do ensino aumentar também. José Manuel Fernandes tentou refutar o argumento, dizendo que se o dinheiro das propinas serve para pagar os ordenados dos docentes, então o aumento das mesmas contribuirá consequentemente para o aumento de qualidade do Ensino. Resumindo: mais dinheiro, melhores professores.
Discordo da visão do meu caro José Manuel. Por exemplo, se um professor é mau, não é por receber mais que vai deixar de ser mau.
Sou da opinião de que o ensino deve ser pago. Se usufruimos de um serviço, devemos pagá-lo. Agora, pagar mais, sem a perspectiva do correspondente aumento de qualidade do ensino, não faz qualquer sentido.
A inominável Ana Gomes decidiu dar espectáculo ontem à noite. Foi à SIC e à TVI mostrar uma imensa indignação pelo facto da pedofilia passar incólume neste país.
Tudo em prol dos interesses das criancinhas abusadas, supõe-se. Errado. A inominável Ana Gomes, cacarejando furiosamente desde que a inocência de Paulo Pedroso é posta em causa, está somente indignada pelas suspeitas em relação ao seu colega, e não em relação às molestações sexuais aplicadas nas vítimas de pedofilia.
A atitude da inominável Ana Gomes merece repúdio não só pelas verdadeiras intenções da criatura, mas igualmente pelo timing da sua indignação. Porque é que a inominável Ana Gomes só se dignou a denunciar os crimes da pedofilia em finais de 2003, se, segundo ela mesma diz, já nos anos 80 eram conhecidos os delitos feitos pelos pedófilos?
A tripulação do Mar Salgado colocou-me no bom bordo! Agradeço o gesto, esperando estar à altura da nomeação.

segunda-feira, outubro 13

Tenho por hábito receber poucas mensagens no telemóvel. É o que dá, esta existência de má-língua, pouco propensa a bonomias alheias. Por isso fico assaz surpreendido quando alguém me envia alguma correspondência.
Agora, adivinhem a minha perplexidade quando recebo isto:

Despe-te de preconceitos. Dia 15Out vai a Yornstore-Chiado as 20h como vieste ao mundo. Entra nu sai vestido. Ofertas limit stock existente. Be Happy, Go Naked.

Só espero que ninguém se lembre de enviar esta mensagem à Teresa Guilherme.
A boçal Ana Gomes insinua que a Justiça portuguesa está a urdir uma perseguição a membros do PS e que simultaneamente manifesta uma protecção escandalosa a políticos do Governo. Em relação a isto, acho que a boçal Ana Gomes devia ser um pouco mais explícita.
No entanto, a boçal Ana Gomes tem razão num ponto: quando referiu que a publicação de uma reportagem no Le Point sobre pedofilia envolvendo dois ministros portugueses do actual Governo merecia uma explicação pública por parte de Durão Barroso.
Digo mais: merecia uma explicação e uma investigação séria sobre a matéria.
Miguel Graça Moura é o arquétipo perfeito do escroque lusitano: rouba, pilha, aldraba, não passa cartão a ninguém, e ainda é capaz de negar as ilegalidades, mesmo depois de confrontado com as provas incriminatórias.
Que o maestro gaste milhares de euros para benefício próprio por conta da Orquestra Metropolitana de Lisboa acho triste. Mas mais triste – e aviltante – é o facto de parte do dinheiro da dita orquestra emanar dos bolsos do contribuinte.
Alguém, pura e simplesmente, devia encarcerar a criatura.
Regresso às aulas. Nas paredes já se vislumbram cartazes a anunciar as festas de recepção ao caloiro. Já para não falar da frequente publicidade às famosas noites académicas. E se a isto, juntarmos as praxes, as manifestações e as greves gerais que vão ocupando uma parte considerável da vida dos universitários, então temos o quadro completo.
É de cão, esta vida de estudante...
Ainda sobre “pedagogias”, no Independente desta semana, vem anunciada uma obra de leitura incontornável: “A Pedagogia da Avestruz”, de Gabriel Mithá Ribeiro. Segundo o artigo, o autor denuncia essencialmente os malabarismos educativos decorrentes da Revolução de Abril, com origem na Esquerda bem-pensante e politicamente correcta. Em suma, a explicação do estado lastimoso em que os pedagogos esquerdistas deixaram o nosso sistema educativo.
Já era tempo de publicar uma obra assim.
Vejo uma reportagem assombrosa, na SIC: o programa dos manuais de Português do 10º ano de escolaridade não incidirá no estudo de Camões, Garrett, Eça ou mesmo de Pessoa. Em vez disso, o esquema proposto pelo Ministério da Educação visa analisar matérias edificantes como o Big Brother (não o de Orwell) e tramas de telenovelas brasileiras. Tudo isto com a justificação de que esta abordagem será benéfica para aproveitar os conhecimentos previamente adquiridos pelos alunos.
É o fim do Ensino.
Análise elucidativa de Vítor Cunha, no Independente:

Gerhard Schröder avisou a Espanha e a Polónia: ou aceitam o projecto de Constituição europeia como ele está, ou arriscam-se a perder milhares de milhões de euros em apoios depois de 2006, quando o actual quadro comunitário de apoio terminar. O chanceler foi mais longe: a Alemanha está farta de ser a “vaca leiteira” da União Europeia e não está disposta a contribuir para o orçamento da UE e ainda ter que aturar exigências políticas daqueles que mais beneficiam em termos financeiros. A notícia na sequência da Cimeira de Roma é manchete do “Financial Times” de segunda-feira e não foi desmentida.
O aviso de Schröder não surpreende. A Alemanha paga para que os países de menor dimensão calem. Os ricos subornam os menos ricos e quando não há disciplina há sanção. É esta a admirável Europa onde vivemos. Trocamos subsídios por princípios e princípios por lentilhas. Não surpreende, por isto, que em Portugal os maiores partidos se preparam para não acertar posições em relação ao referendo. Mais parece uma conspiração: encenam desentendimentos sobre o acessório para garantir o fundamental. E o que eles não querem é que se discuta livremente o fim histórico do Estado português como o conhecemos. Eles não querem porque sabem que podem perder. É uma urgência cívica exigir o referendo já.


sexta-feira, outubro 10

Durão Barroso disse que o debate parlamentar de hoje, que visava uma discussão séria sobre o referendo europeu, correu da melhor maneira. Contesto a visão. No debate falou-se de tudo: desemprego, Martins da Cruz e – como não podia deixar de ser – Guerra no Iraque. Tudo, menos do referendo.
Esta sessão primou, acima de tudo, pela boçalidade da oposição. Não me refiro ao PS, que passou completamente ao lado da discussão.
Falo sim, das manifestações primitivas emanadas do PCP, BE e “Verdes”. Francisco Louçã, entre outros mimos, acusou Durão Barroso de recordista do desemprego em Portugal. Louçã, num laivo de amnésia, esqueceu-se que o PSD é herdeiro directo da política de pilhagem de Guterres e da ruína despoletada pelo PS em todos os sectores.
Em relação aos “Verdes”, desta vez falou Heloísa Apolónio. A criatura conseguiu, acima de tudo, uma proeza inédita: fazer com que eu ficasse com saudades da Isabel Castro.
Quanto ao desempenho do PCP no debate, só digo o seguinte: alguém devia pensar seriamente em mandar internar Carlos Carvalhas. Permanentemente.
O Estado de Direito será uma realidade neste país quando um político for tratado perante a lei como qualquer outro cidadão. Acho que isso não está a acontecer.
Souto Moura

E eu que sempre pensei que vivíamos num Estado de Direito...
Da nulidade ao niilismo: Presidente da República escusa-se a comentar libertação de Pedroso
Eutanásia foi (quase) legalizada em Portugal:

Resolvido caso de mulher dada como morta na Segurança Social de Viseu
Já se encontra resolvida a situação de Maria do Carmo Gomes, que há oito anos tenta provar junto da Segurança Social de Viseu que está viva.
Tudo começou quando se informou sobre os passos necessários para pedir a sua reforma depois de ter estado emigrada no Canadá. O que se seguiu seria muito curioso e até uma história engraçada para contar à família e aos amigos se não fosse um de muitos casos que surgem todos os anos um pouco por todo o país.
Ao analisarem o pedido de Maria do Carmo Gomes e usando os dados do seu cartão de pensionista a funcionária da Segurança Social de Viseu recebeu como resposta do computador que a senhora em questão já tinha falecido. Segundo as informações recolhidas naquele equipamento informático tratava-se de uma situação que se mantinha desde o mês de Novembro de 1983, altura em que Maria do Carmo tinha 23 anos e se preparava para emigrar para o Canadá.
Durante oito longos anos, a emigrante tentou provar através de inúmeros documentos pedidos pela Segurança Social que estava viva. No entanto, o computador continuava a teimar na sua morte.
Os últimos documentos foram um atestado de prova de vida e um certificado de residência da Junta de Freguesia de Cepões, local onde vive desde que voltou do continente norte-americano.
O director do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social, Leonel Carvalho, questionado sobre a situação de Maria do Carmo Gomes, explicou que tudo se encontra devidamente regularizado e que o computador já não dá como falecida a senhora em causa, que após quase uma década conseguiu finalmente que a Segurança Social reconhecesse que ela, que durante vários anos entrou e saiu de gabinetes daquele serviço à procura de uma solução, ainda se encontra viva e tem direito a recber a sua reforma para a qual descontou.


SIC Notícias
Comentário do Flor de Obsessão:

CRITICAR: De vez em quando, ouço amigos que me recomendam recato e prudência no que escrevo. Para não comprar guerras pessoais, para não molestar os rancorosos e os medíocres, inimigos que depois se escondem. As cautelas são maiores quando se trata de política. Confesso que o interesse e temor deste País pela política deixam-me sempre derreado. A nossa pequenez não mudou. A resistência à crítica continua fraca por aqui. Os políticos pavoneiam-se pelos jornais e televisões, têm imenso poder, decidem o nosso futuro colectivo, e acabam depois amuados ao primeiro reparo. Eu direi sempre o que me apetece. E, tal como toda a gente, só não criticarei publicamente quem me paga.

Amén.

quinta-feira, outubro 9

Este vício de tentar, a todo o custo, escrever e actualizar o blog, está a aniquilar o meu organismo. A começar pelas costas. São dores que vão das cervicais até às lombares. E escuso de acrescentar que já não treino há mais de uma semana.
A blogosfera ainda vai ser o meu fim.
Paulo Pedroso foi libertado. O acontecimento foi marcado por manifestações a roçar o indecoroso. A começar nos jornalistas e nos deputados socialistas.
Sem surpresas; há muito que tanto a classe jornalística como a classe política nos habituaram a comportamentos próprios de cavernícolas, a trazer reminiscências das noites de terças-feiras, no Big Brother, quando alguém sai da casa.
Portanto, em relação a isto, estamos falados.
Sobre a libertação em si, o que sucedeu foi bom para Pedroso e, acima de tudo, para o PS. Os Socialistas assistiram, no espaço de uma semana, a duas demissões no Governo, e agora à libertação de Pedroso.
Qual o papel de Paulo Pedroso no Partido Socialista, continua a ser um mistério. Mas não me admirava nada que Pedroso possa sair beneficiado no partido, depois do papel de mártir e de herói nacional que forjou ontem à tarde.
Independentemente disso, uma coisa é certa: esta não é a prova de que o Sistema Judicial funciona plenamente. Pelo contrário. As vítimas da pedofilia continuam sem respostas. Os pedófilos permanecem à solta, sem que tenha ainda havido uma intervenção eficaz neste processo por parte das autoridades.
Ou querem-me provar que o exercício da pedofilia em Portugal está exclusivamente por conta da meia dúzia que está presa?

Para os antiamericanistas da praxe, a vitória de Arnold Schwarzenegger para o cargo de Governador da Califórnia foi uma paródia e a prova de que os Estados Unidos não são um país para levar a sério. Tudo porque a maioria do eleitorado, num gesto primitivo, escolheu um indivíduo que representou no cinema, entre outras coisas, Conan e o Extreminador Implacável. Está bem visto.
Escuso é de referir o exemplo de Ronald Reagan que, depois de ter sido um actor medíocre, enveredou e vingou na política.
Refiro apenas o seguinte: a prova de que homens como Reagan ou Schwarzenegger ganham eleições e impõem-se na política, não é mostra da falta de miolo por parte do eleitorado; é, sim, a prova de que os Estados Unidos, com as inúmeras falhas que detêm, continuam a ser um país livre onde qualquer um pode concorrer e ganhar eleições. É isto que os antiamericanistas não percebem, nem aceitam. Mas a coisa não é para espantos. Uma das características da rapaziada antiamericanista é precisamente primar pela intolerância à democracia.

quarta-feira, outubro 8

Fui buscar este cartoon à Blogotinha. Acho que estão duas realidades bem simbolizadas aqui: primeiro, a cumplicidade entre os que já têm blogs; segundo, a perplexidade de quem não tem.
É uma boa metáfora. Acima de tudo, se tivermos em conta o silêncio infame que a Comunicação Social tem mostrado em relação à blogosfera.
Continuamos a ser um país muito pequenino.



O Vamos Lixar Tudo declarou que vai deixar de assistir às eucaristias dominicais de Pacheco Pereira, na SIC. Não posso dizer que concorde completamente.
Das três vezes que vi as análises do autor do Abrupto, em duas fiquei enojado: quando o dito fez uma censura inclassificável ao blog Muito Mentiroso e quando efectuou uma tentativa invertebrada de defender a “palavra de honra” de Martins da Cruz, usando uma retórica que nem a débeis mentais se apresenta.
Porém, Pacheco Pereira não é uma indigência total. Confesso que até admiro os seus comentários literários. Para começar, só apresenta um livro por semana. A isto chama-se lucidez, em oposição aos alardes senis de Marcelo Rebelo de Sousa. Este, em jeito de super-homem nietzschiano, vai impingindo cascatas de livros (quase todos sem a mínima ponta de interesse), sem sequer realizar uma apreciação literária que seja merecedora desse nome. Praticamente, o seu comentário resume-se a um “li e gostei”. Ora, isto nem o alfarrabista mais reles se atreve a fazer.
Pacheco, por seu lado, concentra-se somente numa obra, discorrendo seriamente sobre o livro que tem nas mãos. Sim, porque o contacto físico com o livro também é fundamental para se apreciar devidamente a obra. Novamente, Marcelo mostra-nos o que não se deve fazer: vai passando uma rápida vista de olhos pelos livros, para logo a seguir os empilhar apressadamente uns por cima dos outros, num comportamento de bibliotecário desajeitado.
Portanto, no que concerne a livros, entre Marcelo e Pacheco, prefiro Pacheco. Mil vezes.

Palavra de honra que não sei se o Ministro está a falar a sério quando disse que se demitiu. Mas se der a sua palavra de honra talvez já acredite.
O refrão do último hit dos 50 cent reza assim:

I don't know what you heard about me
But a bitch can't get a dollar out of me
No Cadillac, no perms, you can't see
That I'm a motherfucking P-I-M-P


O hip hop para mim está morto e enterrado.
Concebo que haja indivíduos sem honra. Martins da Cruz é, obviamente, um deles. O que já não concebo é um homem sem honra, como Martins da Cruz, demitir-se em público sem assumir as devidas responsabilidades. Em vez disso, Martins da Cruz, perante todas as provas que apontavam para a ilegalidade que havia cometido, limitou-se a dizer: Tenho a consciência tranquila, não cometi nenhuma ilegalidade, não violei nenhum princípio ético.
Pior: Martins da Cruz deu a entender que a culpa da sua demissão deveu-se à instabilidade causada pelas insinuações da Comunicação Social.
Isto, como é óbvio, é imperdoável. Martins da Cruz, à imagem de Pedro Lynce, não só não teve honra, como não soube assumir responsabilidades, e pior ainda, quis responsabilizar a Imprensa pela decisão de abandonar o governo.
Estas atitudes de Martins da Cruz não são apenas de um homem sem honra; são igualmente de uma criatura completamente desprovida de qualquer índice de carácter.
Aviz publicou um post sobre a noite:
NOITE, O QUE É?, 12 Somos ligeiramente escravos da insónia. Podíamos dormir, sim, esconder-nos da noite. Há uma luz em qualquer lado, em qualquer lado se encontra. Uma janela. Um sabor, um cheiro que me persegue. Depois, como um relâmpago, acende-se uma letra branca a meio da noite, ficamos à sua espera dela durante horas, para que nos livre do medo e nos prepare para o que há-de vir. Um perfume que me persegue, a todas as horas da noite, entre dois mares.

Descobri um modo de conseguir visualizar este blog inteiro: carregando na opção view e depois mudar o tamanho de letra.
De qualquer maneira, esta é uma condição insustentável para uma página na Internet. Por isso, farei os possíveis para regularizar a situação (nem que tenha de fazer uma página nova...).
Algo de estranho se passa com este blog (para além do autor). Não consigo expôr na página todos os posts que publiquei. Pelo facto, peço desculpas.
Espero ter o problema resolvido quanto antes.

terça-feira, outubro 7

Palavra de Honra que não fazia ideia!
O Contra a Corrente chamou a atenção para os textos de Rui Ramos. E fez bem. Por exemplo, no último Independente, Rui Ramos esclarece-nos sobre o que foi o verdadeiro 5 de Outubro. Esqueçam a imagem romântica que nos impingiram na escola, em que a Implantação da República é vista como um movimento democrático, pluralista e, coisa divertida, pacífico e tolerante.
O 5 de Outubro de 1910 foi tudo menos democracia e tolerância. À imagem da sanguinária Revolução de 1789 e dos mimos bolcheviques em 1917, a revolução republicana, a partir do primeiro momento, regeu-se pelos valores mais caros à Esquerda radical e extremista.
E se ainda restam dúvidas sobre as consequências medonhas do acontecimento, analisemos os números expostos por Rui Ramos no seu ensaio, relativamente ao sufrágio:
Em 1878, sob a Monarquia, 72 por cento dos homens adultos tinham direito de voto; em 1913, sob a República, apenas 30 por cento. Quanto à participação eleitoral: em 1908, nas penúltimas eleições da Monarquia, 32,9 por cento dos eleitores tinham exercido o direito de voto; em 1925, nas últimas eleições da República, essa percentagem ficou-se pelos 14, 2 por cento.
Para Rui Ramos, 5 de Outubro de 1910 foi o dia dos equívocos. Mas é preciso salientar que não foi o único. Ou já nos esquecemos do que aconteceu nos momentos que sucederam à queda da Ditadura, em 1974?
Equívocos na História, infelizmente, houve muitos.

segunda-feira, outubro 6

Por favor, expliquem-me isto!
Linhas iniciais do editorial de José Manuel Fernandes:
A espiral de violência em que o Médio Oriente está de novo mergulhado tem muitos responsáveis. Os terroristas palestinianos e os radicais israelitas, com Ariel Sharon à cabeça, são os responsáveis mais vezes citados. É porém altura de deixar de poupar Yasser Arafat: apesar de cercado no seu quartel-general, apesar de ameaçado de expulsão, apesar de vestir - como tão bem sabe fazer... - a pele de mártir, Arafat é hoje um dos principais obstáculos a qualquer saída pacífica. Era bom que a Europa percebesse isso e se lhe dirigisse com a mesma firmeza com que justamente de dirige a Ariel Sharon.
Era bom, mesmo!
O primeiro golo do Marítimo, no jogo de Sábado, contra o Sporting, deu-me uma ideia. Imaginem a final do Campeonato Europeu de Futebol 2004: a Alemanha está a ganhar por 1-0. No último minuto de jogo, Figo dirige-se para a baliza da Alemanha; passa um, dois, três defesas, finta ainda o quarto e remata certeiro, não dando hipóteses a Kahn. O estádio inteiro ergue-se em peso, louvando a jogada magistral de Figo. Os jogadores festejam efusivamente, já perspectivando o prolongamento. Mas, de repente, o árbitro assinala pontapé de baliza para a Alemanha. Toda a gente, incrédula, olha para a bola, que se encontrava perto das bancadas. Os jogadores portugueses ainda tentam convencer o árbitro de que a bola entrou na baliza, saíndo depois por um buraco nas redes. O árbitro, porém, mostra-se irredutível. Daí a poucos segundos, apita, e dá por terminada a partida.
No final, não há mais nada a fazer senão entregar a Taça à selecção alemã.
A blogosfera é um mundo sem paralelo. Divulgo a minha página aos ilustres escritores de Mata-Mouros, e como resposta obtenho:

Caro JBS,
Já o visitamos e até já lhe demos o prémio de Melhor
Revelação!

Um abraço
CAA


É o que dá, não ter tempo para ver tudo... nem sequer sabia que esta rapaziada já me conhecia.
Um abraço também para vocês! Keep on blogging!
O discurso de Pacheco Pereira sobre a "Palavra de Honra" de Martins da Cruz foi simplesmente hilariante. Para o comentador, o Ministro dos Negócios Estrangeiros teve uma atitude mais louvável do que a demissão de Pedro Lynce. Tudo por causa da "Palavra de Honra", claro!
Agora, o interessante é lembrarmo-nos das palavras inflamadas do mesmo Pacheco Pereira em relação a Paulo Portas e às suas implicações no Caso Moderna, quando sugeriu que o Ministro da Defesa se deveria demitir.
Ah, Paulinho, se te tivesses lembrado da "Palavra de Honra"...

domingo, outubro 5

E ainda propósito dos valores astronómicos das propinas, perguntem ao Presidente da Associação de Estudantes da Universidade de Coimbra quanto custou o traje dele.
Para parecer culto, espuma de raiva; para se parecer com um pinguim seboso, já está tudo bem.
Beyoncé Knowles chocou a opinião pública após ter revelado a sua dieta peculiar. Aparentemente, a menina come apenas um pepino por dia.
Obviamente, as reacções dos pais, melindrados com as influências nefastas da cantora na alimentação dos seus filhos, não foram as melhores.
Por mim, acho que a análise foi mal feita. Quando Beyoncé fala em dietas e pepinos, está a referir-se à sua compensação sexual diária e não, como se inferiu, à sua alimentação.
Por favor, alguém dê um tiro a este gajo!
Com pompa e circunstância, a Visão anuncia que Mário Soares será cronista da casa a partir desta semana. Aliás, a mesma Visão coloca no expositor um panteão de comentadores, donde se destacam Diogo Freitas do Amaral, Eduardo Lourenço, Maria de Lourdes Pintasilgo (já agora, é com um “s” ou com dois?) e Boaventura Sousa Santos. Isto tudo a juntar aos artigos e reportagens que tresandam a anglofobia e a antiamericanismo, conclui-se que a Visão tornou-se no pasquim oficial do Fórum Social Português.
Parabéns, Carlos Cáceres Monteiro!
O 1º de Abril chegou tarde e a más horas: Diogo Freitas do Amaral acusou Paulo Portas de estalinista. A atitude partiu do facto de Freitas do Amaral ter sido excluído do vídeo apresentado no Congresso do CDS-PP sobre a história do partido. Sinceramente não assisti ao congresso, muito menos ao filme. O que sei é o seguinte: depois do famigerado congresso, Portas conseguiu a proeza inédita de ter sido colocado na extrema-direita, e agora, na extrema-esquerda. Parece-me bem.
Que os analistas políticos apelidem de fascistas os tiques de Portas (nomeadamente depois das suas declarações sobre a questão da imigração), não me choca. Pelo contrário; até compreendo. Os analistas políticos no nosso país destacam-se pela ignorância e até pelo fanatismo contra tudo o que não pertence à Esquerda.
O que me perturba realmente são as atitudes de um espécimen como Freitas do Amaral que, depois de resvalar para a esquerda-radical, acusa alguém de estalinista.
Jorge Sampaio frisou ainda no seu discurso que é um combatente. Com certeza não está a falar dos tempos do Exército (que obviamente não frequentou), nem muito menos da Guerra Ultramarina.
Então, porquê o termo combatente? Estará a referir-se ao casamento com a actual mulher? Porque se estiver, então Sampaio não é apenas um combatente; é também um sobrevivente.
Carlos Queirós decidiu colocar o dedo na ferida: não fez sentido nenhum ter construído dez estádios para o Euro 2004, face à flagrante pequenez da nossa realidade futebolística.
Palavras sábias as do Professor. Um país que tem uma Superliga (coisa curiosa, a única no mundo inteiro) onde predomina um futebol medíocre, e cujos estádios têm cada vez menos espectadores, não devia ter tido a veleidade de querer organizar um Europeu de futebol. Agora o mal já está feito e não há possibilidades de voltar atrás. Mas fica a lição para futuros governantes: antes de pensarem em gastar centenas de milhões de euros em recintos desportivos, lembrem-se dos hospitais que se desfazem, das matas que ardem, da criminalidade que aumenta e da fome que vai alastrando pelo país. Só vos vai ficar bem.
O homem não conhece o meio-termo. Jorge Sampaio, na sua última arenga, contrastando com os seus habituais marasmos discursivos, foi incrivelmente incisivo quando tentou defender a reputação dos políticos portugueses. Diz o rapaz que está cansado da má fama que os políticos portugueses têm na opinião pública. Isto tudo como se o público tivesse culpa.
Não ocorre ao Sr. Presidente da República que, se calhar, a má reputação da classe política pode derivar das atitudes irresponsáveis, inconstitucionais e criminosas que predominam em grande escala entre os membros do Parlamento, e não da má vontade dos cidadãos.
Mas o pior nem é isso. Grave, grave é a ambiguidade sórdida do Sr. Presidente da República: para salvaguardar os interesses do povo manifesta brandeza, mas para defender os camaradas da Assembleia é uma autêntica fera.
Vamos esclarecer um assunto: não sou completamente a favor do regime actual das propinas. Seria totalmente injusto e desumano ignorar os estudantes que vivem em condições precárias e que, portanto, não podem fazer face ao pagamento dos valores que são exigidos pelo Ministério de Educação. Portanto, para esses casos, dever-se-ia abrir uma excepção.
Mas esses alunos são uma minoria. O grosso dos académicos que brada pela abolição (i. e., que discordam com o pagamento de um serviço que visa torná-los melhores pessoas, garantindo-lhes um futuro consistente no mundo laboral) não vive em circunstâncias difíceis. Pelo contrário: no dia-a-dia, esta matula de analfabetos não mostra qualquer pudor em exibir automóveis topo de gama, roupa cara e vistosa, ou mesmo em aparecer em festas pomposas ou em estâncias de luxo durante as férias, entre outras coisas.
Por outro lado, é mais que clara a aversão que esta rapaziada nutre pela educação, livros, professores e outras instituições que impliquem trabalho e cultura.
O problema está somente aí. O arquétipo do universitário português nem sequer gosta de estudar. A razão da sua existência na universidade resume-se unicamente a socializar, beber, fumar (de preferência, qualquer mixórdia que tenha o rótulo de ilícito), e frequentar bares e discotecas com regularidade.
Para esta cambada não pode haver contemplações. Propinas em cima deles!

Ah, temos homem! João Pereira Coutinho voltou ao trabalho, desta vez com uma nova coluna de opinião, intitulada Testa de Ferro. Confesso que, dentro do meu espírito saudosista, apreciava mais o formato da sua Vida de Cão. Mas enfim, é tudo uma questão de hábito.
O que realmente interessa é a qualidade e o conteúdo dos textos do Mestre. Amén.
Ainda relativamente ao escândalo Pedro Lynce/Martins da Cruz, tenho ouvido com alguma inquietação que Pedro Lynce se comportou como um senhor ao assumir o erro que cometeu e, consequentemente, ao pedir a demissão. É preciso esclarecer aqui dois pontos.
Em primeiro lugar, Pedro Lynce não foi um “senhor”, porque não assumiu rigorosamente nada. Apenas se demitiu, quase alegando que a culpa do escândalo foi da Imprensa e da suposta perseguição aos membros do Governo. Em segundo lugar, Pedro Lynce não cometeu um erro. O Ministro foi cúmplice activo de um esquema ilegal para benefício de um colega. Ali não houve erros nem lapsos, mas única e exclusivamente uma atitude sórdida e inconstitucional. Por estas duas razões, a demissão de Pedro Lynce não merece qualquer aplauso; apenas vergonha.
Ouvir Martins da Cruz dizer que não pediu ajuda a Pedro Lynce para facilitar o ingresso da filha no Ensino Superior é simplesmente patético. Que o Ministro não tenha gostado de ser apanhado pelo seu pecadilho, compreendo. Ninguém gosta. Agora, não assumir as culpas quando se é apanhado, é que já é um pouco mais grave.
Mais: Martins da Cruz ao dizer o que disse não só não assumiu a responsabilidade, como igualmente remeteu exclusivamente as culpas para Pedro Lynce. É como quem diz: “Não, não fui eu que fiz questão em ver a minha filhota beneficiada. Foi aquele malandro do Lynce.”
Ganhe pejo, Martins da Cruz!
Boas notícias para Francisco Louçã e para os seus Okupas: este fim-de-semana, em Roma, vai haver uma manifestação anti-globalização. Prevêem-se destruições de lojas e de monumentos históricos, pancadaria, pedradas, tiros, provocações a polícias e outros afagos por parte dos manifestantes.
No fundo, até louvo o facto destes filantropos serem “pacifistas”. Imaginem os estragos que fariam se não o fossem.
O enólogo madeirense Alberto João Jardim diz que o país precisa de criar uma nova classe política. Concordo.
Mais: o país precisa igualmente de se ver livre da velha classe política, que prima, entre outras virtudes, pelo seu escabroso caciquismo. A começar por si, Alberto, e pela sua infame corja de gandulos.
Ainda a propósito dos putrefactos Stones, devo acrescentar que o seu êxito deveu-se quase exclusivamente aos quaternários Satisfaction e Get Off of My Cloud, e a uma escabrosa série de escândalos que se foram arrastando durante quase meio século para gáudio do público, igualmente putrefacto.
Dou por mim em plena Almirante Reis a ser interpelado por uma alma caridosa, que me oferece um pedaço de papel. Reza o dito:

Mestre Moussa
Muita Experiência em Casos Muito Graves
Poderoso Mestre Moussa, especialista no regresso do Amor, quebra de feitiços e mau Olhado. Aconselha sobre problemas familiares, emprego, Má sorte. Faz protecção contra inimigos e Perigos.


Não vale a pena, Dr. Moussa. Já nada me pode salvar. Nem mesmo o senhor.

sexta-feira, outubro 3

Cerveja sim! Propinas não!
Depois das cenas edificantes realizadas ontem no ISCTE, imagino que os alunos terão ido afogar as mágoas no bar mais próximo. De preferência, estoirando todo o dinheiro que tinham, em shots e cervejas.
Sempre sabe melhor do que gastar dinheiro nos estudos.
Dou aqui as boas-vindas à escriba de Os Meus Neurónios São Cor de Rosa.
Ainda sobre a questão da tentativa ilegal da filha de Martins da Cruz ingressar no curso de Medicina, devo reproduzir neste espaço as palavras esclarecedoras do director-geral do Ensino Superior, Luís Requicha Ferreira, quando interpelado por uma jornalista da SIC: “A aluna não cumpre esses regimes especiais, mas cumpre outros.” “Quais?”, pergunta a repórter. “Outros, especiais. Que não vêm na lei.”
Ah, com este tipo de honestidade, não há vigarice que resista.
Em notícia no Expresso, Sting declara que graças ao “Ioga” (na minha terra escreve-se “Yoga”) faz amor durante oito horas por noite. Entretanto, a mulher dele ainda não se pronunciou sobre a pretensa dinâmica do marido. Claro. Ela ainda não sabe de nada.
Pedro Lynce demitiu-se. Achei bem. Aliás, sou da opinião de que Martins da Cruz também se devia demitir. Ao contrário da opinião de Mário Bettencourt Resendes, considero que o facto do ministro estar a efectuar um trabalho razoável não pode servir de desculpa para o mesmo incorrer em manobras ilegais para beneficiar a filha.
De resto, se a Imprensa não tivesse revelado o escândalo, teria tudo continuado na mesma.
Vejo num relance o blog Vamos Lixar Tudo. O nome promete.
Com os helicópteros do INEM fora de serviço só nos resta esperar que os submarinos entrem em acção.
A Desgraça
A prova de que o Nobel deste ano é um ilustre desconhecido (para variar), está no facto de ninguém ter ainda conseguido pronunciar correctamente o seu nome.
Considero que a Malta da rua interpretou erradamente as atitudes de Mick Jagger.
Jagger foi desaconselhado a não entrar em contacto com ninguém, por um grupo conceituado de paleontólogos, que, após o concerto, levaram "Sir" Mick para o Museu de História Natural em Londres.
Sejamos compreensivos.
O Contra a Corrente fala-nos do site do Independente, dizendo que ainda não estão disponíveis as crónicas de opinião. Ora bem, um site do Independente sem as crónicas de opinião a mim não me diz nada. Não é para menosprezar o trabalho dos restantes jornalistas, mas a meu ver, o Independente é, acima de tudo, a opinião.
São os editoriais demolidores de Inês Serra Lopes, as dissecações irrepreensíveis de Vítor Cunha e as análises internacionais de Vasco Rato e João Marques de Almeida.
Já para não falar da placidez corrosiva de José Júdice, ou da prosa apaixonante de Miriam Assor.
Ou mesmo dos textos de Pedro Mexia, que, embora ainda não tenha tido oportunidade de os ler, a avaliar pela qualidade do seu Dicionário, deve ser aposta ganha no Indy.
E, last but not least, o Mestre João Pereira Coutinho, que, não fossem as crónicas de Eça, seria o melhor colunista português de sempre (é verdade, para quando é esse “brevemente”?).
Concluindo, enquanto o trabalho dos opinativos não estiver disponível, o site não faz qualquer sentido.
Bárbara Guimarães a propósito da sua gravidez de 4 meses: "O meu marido reagiu com uma ternura imensa."
Agora resta-nos saber qual deles.

quinta-feira, outubro 2

Depois de ouvir o magno discurso do nosso excelso Presidente da República sobre o Sistema Judicial, cheguei a duas conclusões insofismáveis: o homem fala muito e não diz népia; depois (e aqui reside o mais grave), todo o auditório sabe disso, mas insiste em encarar de cara alegre as insipiências discursivas de Jorge Sampaio. Isto só demonstra o seguinte: para o Zé Povinho continua a ser conviniente ter como Presidente da República uma criatura que prima pela gritante nulidade política e que não tem suficiente arrojo para se deixar de evasivas, perífrases e subjectividades quando aborda os assuntos referentes ao país.
É o que dá, não os ter no “sítio”...
Sinceramente achei que a actuação do FC Porto frente ao Real Madrid foi bem conseguida. A equipa está em boa forma e ontem demonstrou uma garra de atemorizar qualquer adversário.
O problema é que o Real é um panteão de génios e que, em três remates, faz três golos.
Não há nada que resista a isto.
Eis uma história que nos faz pensar seriamente nas virtudes da comida afrodisíaca japonesa:

DIPLOMATS MEET OVER ORGY

China has summoned a Japanese diplomat to express its anger in the latest twist in the row over a mass orgy involving Japanese tourists and Chinese prostitutes.

The official was warned of China's "strong indignation" over the incident, Chinese media reported.


There was massive public outrage in China at the weekend when it was reported that up to 400 Japanese men had been serviced by 500 local prostitutes in a luxury hotel.

The allegations have hit national sensibilities because the sex marathon is claimed to have happened on the 72nd anniversary of the invasion of north-eastern China by the Japanese imperial army.

Chinese media said the Japanese diplomat was told the orgy was an "abominable" act.

The official told the Japanese envoy, neither of whom was named, the goings-on had hurt the feelings of the Chinese people and severely damaged Japan's international reputation.

The Japanese official expressed regret over the incident, the People's Daily said.

The three-day orgy, which began on September 16, has been front page news in China and has dominated internet chatrooms where the Chinese have logged on to express their outrage.

The five-star hotel in Zhuhai, southern China, has been closed down while officials investigate the allegations.


Sky News, Tuesday September 30, 2003

Ok, aquele post sobre a Spectator foi só um susto. E um engano brutal da minha parte. A revista continua disponível online e de borla.
Graças a Deus!
E as boas notícias não param: Aristides de Souza Mendes, um dos mais nobres seres humanos do século XX, é lembrado numa exposição a decorrer em Viena.
É com imensa surpresa que constato que este mísero blog foi visitado (com certeza devido a um enorme lapso)por alguém pertencente a este blog intitulado The Amazing Trout Blog.
Devo desde já saudar as criaturas que povoam o dito blog pelo excelente gosto que manifestam através dos posts publicados.
Com efeito, não é comum encontrar no mesmo espaço pessoas que assumam declaradamente admiração por instituições sagradas como Manuel João Vieira (o único candidato que me fez pensar em ir às urnas), Cabaret da Coxa (com o melhor entertainer português e, juntamente com Ana Sousa Dias, o melhor entrevistador do paí­s), South Park (com aquela irresistível tribo de dementes), entre outros. Espero por melhores dias para consultar devidamente o blog, pois apenas tive oportunidade de ler alguns posts num relance. Mas fica, para já, a nota.
Trutas, I salute you!
Diz a Malta da rua: A malta da rua soube que, em Coimbra, os Stones mantiveram uma distância absoluta para com todos os que não faziam parte da «família». A banda só saiu do camarim para cumprimentar os VIP's e depois da assessora ter avisado: «não falem com eles a não ser que sejam interpelados e só lhes apertem a mão se a iniciativa partir deles». Privilégios de um Sir e dos restantes aristocratas da pedra. Lá em baixo, no backstage, a segurança acabou mesmo por barrar a passagem aos membros dos Primal Scream que passavam da sua área para a área dos Stones numa algazarra que perturbou o Sir Mick. No final, e antes de entrarem nas limusines, Charlie Watts foi o único que se incomodou a voltar atrás e a dar os parabéns ao Kalu dos Xutos pelo «hell of a show». De resto foi apenas o «umbigo», o «umbigo» das pedras rolantes. Nada de misturas com a plebe. «Se isto fosse Londres ou NY ainda vá...» pensou o Sir Mick incomodado com o cheiro a português...
Mais nada!

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